quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Maria, substantivo mais que próprio

Maria Antônia Guimarães Silva, 62 anos, negra, mãe de cinco filhos, dois homens e três mulheres, aposentada, atualmente mora na cidade de Santa Maria da Vitória, porém antes morava na zona rural deste município, no povoado de Santo Antônio. Casada, mas, depois de vinte e dois anos sendo maltratada pelo esposo, criou coragem e divorciou dele.

Por conta de tantos obstáculos, só pode estudar até a quarta série. Mesmo assim, não foi consecutivo, pois estudava um ano, paravam outros, e assim ia “atrofiando” o que aprendia a cada vez que tinha que acompanhar, juntamente com a filharada, o marido que trabalhava nas fazendas do entorno onde morava.

Ela teve muitas dificuldades na aprendizagem, em virtude de não dar conta de acompanhar o ritmo dos colegas, e nem sempre, ou nunca, os professores observavam tal situação, já que não apresentavam interesses em ensinar aos que tinham Déficit de Aprendizagem. Apesar disto, Maria não deixava se abater, e sempre procurava correr atrás, quando não entendia determinado conteúdo.

As disciplinas de matemática e português sempre foram vista como um “bicho papão” na vida da coitada, contudo, ela procurava fazer a diferença refletindo às teorias em casa (isto dificilmente é possível na escola), quando o marido não estava presente, pois esse não consentia o estudo dela. Assim como tantas outras Marias, ela desenvolveu o seu próprio “método” de ensino, melhor, de aprendizagem. Foi através dos alimentos que consumia em casa, que ela foi percebendo a presença das aludidas matérias. Identificou nos alimentos que tinham embalagem timbrada, que algumas letras eram diferentes, e concluiu que isso fazia com que eles tivessem nomes um tanto desiguais. Observou isso também com os nomes dos seus filhos, mesmo que todos começassem como a letra J – J que escreve também José! Ingrato ex-esposo.

Percebeu que cada vez que pegava um ovo no poleiro, a quantidade aumentava, assim, estaria fazendo uma conta aditiva (soma); e quando fritava-os no almoço, para a família ocorria o contrário – diminuía. Nesse sentido, pode notar que todas às disciplinas escolares, se bem vista pelo professor e pelos colegas, estavam perto de todos.

Devido à aprendizagem que teve em matemática, Maria passou a sentir menos falta de seu ex-esposo que tanto a maltratava, pois entendeu que a presença dele no lar, ajudava a diminuir sua alegria, tornando o ambiente opaco; enquanto a dos filhos aumentava a vontade de viver. Mesmo que às vezes diminuíram, já que alguns tiveram que ir embora para Goiânia em busca de melhores oportunidades de trabalho. Não puderam “desfrutar” nem mesmo do ínfimo estudo que à mãe teve.

Ela igualmente aprendeu em português, que o verbo amar pode ser conjugado em tempo presente, no entanto, pode se conjugar também no passado. Embora o amor possa ser também um substantivo concreto, também pode ser um substantivo abstrato. Assim como o nome José pode ser um substantivo próprio, ele pode ser um substantivo simples... vai depender do ponto de vista de quem olha.

Diante das adversidades, e contrariando a curiosidade, Maria teve que parar seus estudos, embora tenha notado que teve um melhor aproveitamento, quando percebeu a presença dele em sua vida... fora da escola.

Justino Cosme, estudante,

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sai da fila moço, quero passar!

Nunca gostei de pegar nenhum tipo de fila, se não for exagero, ninguém gosta. Às das instituições públicas (considero uma grande falta de respeito), principalmente, as que demoram uma eternidade, ao andar em passos de lesmas, quando estão ainda com preguiça. Quando aparecem os fura-filas, ou engraçadinhos (as) – para não dizer outra coisa – aí é que ela se espicha. Sem contar, às vezes, que os lentos atendentes contribuem para isso.

Não querendo ser nenhum herege, parece que existe fila até mesmo para falar com Deus, sendo que são muitos os(as) miseráveis que lhe pedem assistência, e não são atendidos(as) facilmente, decerto as filas são enormes também lá no céu. Se não for exagero, todas as pessoas da classe popular já pegaram fila; na verdade, as crianças dessas famílias já nascem e crescem pegando: fila no hospital público, no fórum, na escola, e segue até mesmo na hora da morte.

Contrariamente, as ricas dificilmente pegam. Nas repartições públicas, então, nem se fala! Tendo em vista existirem exceções inescrupulosas para isso, infelizmente, sendo que há um número considerado de congêneres. Existe até uma frase famosa e perdida por aí, que diz: “no Brasil, as leis são para os inimigos; para os amigos aplica-se o jeitinho brasileiro”.

Por sua vez, nas poucas filas das instituições particulares, existem as “regalias” que são monitoradas a partir da conta bancária que cada indivíduo possui. Isso fica perceptível no atendimento prioritário que têm esses nos próprios bancos, dentre outros.

O engraçado é que na fila, algumas pessoas se posicionam sobre vários fatos do cotidiano, pouco ou quase nada sobre ela mesma. Parecerem ficar hipnotizadas. Numa situação, principalmente de pressa me pergunto quem a tenha inventado, somente. Embora tenho a impressão de que ela seja mesmo o ponteiro que marca a sociedade burocrática, e o atrito que impede a rebeldia. Apesar disso tudo, algumas coisas divertidas são comentadas na fila. Certo dia mesmo, ao tentar aproximar de uma vetusta senhora, na conversa – já que fisicamente estávamos muitos próximos – para informar que havia fila especial destinada a ela. Fui perguntando de onde era, no que me disse: - Sou da comunidade do Tatu.

Quando ia abrir a boca para fazer uma outra pergunta, interrogou-me: - E você é de onde? Antes que lhe respondesse, fitou nos meus olhos, meio desconfiada e de supetão, fez uma outra pergunta: - Você é homem ou é mulher?

Mesmo sem saber como respondia, comedido, com voz trêmula e baixa, disse: - Sou homem, não pareço?!! E sem medir palavra, a senhora falou: - Não, nunca vi homem na minha frente de cabelo grande e ainda com faixa na cabeça. Isso é coisa de mulher. Ora!

Foi somente dessa forma que a fila saiu do lugar...

Afinal, o que é cultura?

Ainda parece que não é demais falar sobre cultura, uma vez que há um entendimento distorcido ou equivocado do seu conceito macro, pois existem muitas pessoas que pensam que ela restringe-se a um número pequeno de indivíduos, ou seja, geralmente, quando se faz alusão às pessoas que tiveram acesso ao conhecimento científico, a exemplo das que são egressas de universidade, ou referindo às que desenvolvem alguma expressão artística ou tem afinidade. Quando muitas das vezes, apregoadas às que lêem muito ou “domina” mais de uma língua.

Como se isso já não bastasse, existe uma quantidade de pessoas, “os eruditos” – mesmo sabendo ou conhecendo o significado – não demonstram nenhum interesse em desmitificar tal equívoco, aproveitam da falta de compreensão de muitos (as) para continuarem perpetuando a imagem de que são os únicos possuidores de cultura.

Dificilmente, as pessoas associam a cultura como uma atividade intrínseca aos seres humanos, quê são únicos possuidores da razão, e a todo instante transformam o meio de acordo às suas necessidades, ou conseguem adaptar-se sem muitos problemas. Diferentemente dos animais irracionais, que não sobrevivem fora do seu habitat, nem conseguem modificá-lo.

De modo singelo, cultura é conjunto de características humanas, o modo de falar, formas de organização; os costumes, tradições, técnicas, comidas, dentre outros. O que convém dizer que todos nós temos cultura, aliás, culturas – no plural – já que temos várias. Até mesmo quem não consegue fazer a leitura desse pequeno texto a possui.

Quando alguém diz que uma cultura é mais importante que a outra, percebe-se que ela está usando de uma comparação, de um modelo no qual um tende a sobressair. Contudo, sem saber – muitas das vezes – está praticando o etnocentrismo (etno, ‘cultura’; centrismo, ‘ter como centro’), que é uma visão preconceituosa, já que considera uma cultura superior a outra, isto é, não consegue perceber a diferença e a relevância que cada uma tem.

A exemplo de uma prática etnocêntrica, não poderia deixar de mencionar aqui a visão equivocada presente na sociedade acerca da palavra “civilizado”, sendo que, quando usada pela maioria, refere somente às pessoas que têm familiaridades com as novas tecnologias, ao conhecimento elaborado; que escrevem conforme a Norma Culta, etc. No entanto, muitos(as) não sabem que este mal entendimento foi provocado pelos portugueses, quando chegaram às terras brasileiras, pois acreditavam que havia uma escala evolutiva pela qual todos os povos deveriam passar linearmente para chegar o máximo do desenvolvimento humano. Nesse caso, os habitantes daqui, os índios, por ter uma cultura diferente, foram visto como pessoas atrasadas, bárbaras, e que ainda iam evoluir a partir do seu modelo: o europeu. Denominando assim a cultura européia superior às demais ou a mais importante.

Além desse exemplo, poderia citar vários outros, como a própria visão atropelada que se tem dos trabalhadores (as) rurais, dos (as) negros, das mulheres, dos homossexuais, dentre tantos.

Ressalta falar ainda que, além de todas as pessoas serem providos de culturas, ela é dinâmica, ou seja, está em constante mudança e, com o advento das revoluções tecnológicas, as transformações passam a ser mais efêmeras. Fazendo com que agregamos novos valores aos já existentes, mudando, muitas das vezes, de maneira espontânea a nossa cultura.

Justino Cosme, estudante

sábado, 18 de setembro de 2010

E se a história for mentirosa ou por que estudar história

E se, de repente, descobríssemos que toda a história que conhecemos não é verdadeira? Tudo que sabemos sobre o passado foi invenção de homens que estavam sem o que fazer e resolveram inventar histórias contando-as como verdade? Os gregos com seus deuses, os jardins da Babilônia, a escrita dos sumérios, os imperadores romanos é tudo invenção. Roma nunca foi sede de um grande império, Atenas nunca conheceu a democracia e Constantinopla jamais foi um entreposto entre o Ocidente e o Oriente. Esses homens inventaram tudo e foram floreando suas histórias dando asas à imaginação.

Nenhuma pessoa digna de confiança entre os hebreus dá notícia de um homem considerado o Cristo, Muhamad é tão comum entre os árabes que nenhum poderia ser digno de destaque, pensar que alguém pode ser o Iluminado é estado mental parecido com o provocado pelas plantas alucinógenas. Nenhum homem andou pelas ágoras de Atenas filosofando entre jovens, aliás, não havia ágora em Atenas, nem mesmo Atenas; nenhum homem devasso converteu-se ao cristianismo e tornou-se um de seus principais pensadores, aliás, nunca houve cristianismo; nenhum homem desenvolveu a ciência entre os árabes quando os europeus ainda escarravam e cuspiam à mesa.

Nunca houve reis. Nenhum homem em momento algum teve poder sobre outro. Jamais um homem disse “o Estado sou eu”, mesmo porque o Estado só existe onde uma pessoa controla outra. Os homens nunca disputaram o poder, nem fizeram guerra, jamais mataram uns aos outros, nunca competiram de maneira desleal e não há quem prove que um sujeito tenha dito que “os fins justificam os meios”. O máximo que houve até hoje foram puxões de orelha mas, como se faz com as crianças com finalidade educativa, jamais por qualquer outro motivo.

As sociedades nunca foram machistas, homens e mulheres sempre viveram harmoniosamente, nunca houve paternalismo, as mulheres sempre puderam utilizar os mesmos espaços, sempre tiveram os mesmos direitos, o que já aconteceu foi uma ou outra rusga de casal mas logo passou e as coisas voltaram ao normal. Não há notícia confiável que mostre que já existiu racismo, a escravidão é uma das piores invenções desses homens. As pessoas sempre trabalharam mas em todas as sociedades todos tiveram os mesmos direitos e oportunidades. Nenhum homem navegou pelo mar numa caravela para depois de um bom tempo gritar “terra à vista”, nenhum índio foi encontrado nem dizimado, aliás, índio não existe. As pessoas sempre foram tolerantes, conviveram bem com as questões do sexo, os homossexuais nunca foram discriminados. Pelo exposto neste parágrafo fica evidenciado que mulheres, negros, índios e homossexuais nunca lutaram para conquistar seus direitos e espaços, sempre os tiveram respeitados.

Nunca houve explosão de bomba atômica, arquiduque austríaco algum morreu na Bósnia, o holocausto é uma farsa. As guerras do Vietnã e da Coréia nunca existiram, da mesma forma as de cavalaria e as religiosas. Pensar numa Guerra de Cem Anos é absurdo, as disputas do Peloponeso parecem mitologia. A colonização da África e a dizimação dos povos americanos são das invenções mais absurdas. Guerra é uma coisa que a humanidade não conhece, nem Fria, nem de qualquer outra temperatura.

E se descobríssemos que toda a história é mentira? Neste dia, descobriríamos que sorrimos e choramos à toa, que sofremos e nos alegramos, torcemos e ignoramos em vão, que odiamos, amamos, sentimos, lutamos para não ter nenhuma recompensa, enfim, que vivemos por nada. Neste dia começaríamos a reconstruir o mundo, buscaríamos outras bases, construiríamos outras estruturas para outras ordens sociais, culturais, políticas e econômicas, encontraríamos outros sentidos para a vida, teceríamos novos significados para as coisas, inventaríamos, enfim, outra história para a humanidade.

Anísio Filho, historiador - Agrovila 08 - Serra do Ramalho-BA

A foto do finado Zé Pau D'água

Na empresa que eu trabalho, poucos dias atrás, estava em reforma do prédio. Então, havia um pedreiro e um servente que faziam a obra. Este era uma pessoa calada, porém aquele era uma pessoa que gostava de fazer “resenhas”, pois falava e brincava com todos os empregados; além de fazer sempre questionamentos diante dos fatos ocorridos no mundo, também com toda sua vizinhança, e de nós trabalhadores da agência.

Considero Moises, o pedreiro, um sujeito muito inteligente, ainda que tenha estudado tão pouco ou quase nada, porque suas reflexões são arregimentadas com fortes argumentos. Claro que algumas vezes desliza nas suas pilhérias e em seus posicionamentos, todavia, nunca dá o braço a torcer, pois sempre demonstra ser o dono da razão. E tem opinião formada para discutir qualquer assunto. Se brincar, sabe quantas estrelas há no céu!

Na segunda-feira, aparentemente, o artífice produzia menos, devido ter uma bagagem de novidade de informação para contar para nós, porque no sábado e domingo armazenava muitas notícias da Vila onde morava. Como se tudo isto não bastasse, chegava sempre com ressaca, já que apreciava uma pinga brejeira sem moderação, aliás, isso era comum no decorrer da semana.

Apesar de está sempre por cima nas brincadeiras que fazia, o operário viu-se numa situação nada delicada, porque um dos colegas de trabalho, sem que Moises percebesse, ficou uma semana assustando-o, com uma “Lembrança de Finado” de outro ex-colega nosso, que havia falecido por conta de cirrose.

Arthur pegou a foto e botou na bolsa, juntamente, com os materiais de trabalho de Moises. Quando este ia pegar um instrumento de trabalho, levou um susto ao deparar com a lembrança, e sem entender o que havia acontecido.

No dia seguinte, e por um descuido do pedreiro, Arthur pegou a foto e colocou ao lado da pia do banheiro. No momento que Moises virou para fazer um reparo no lavatório, levou um susto, já que havia deixado a fotografia em outro local. Sem entender, e assustado com tudo aquilo, o operário quis saber quem tinha colocado a imagem ali. Como ninguém disse nada, e, implicitamente, morrendo de sorrir, o pedreiro nada desconfiou. Assombrado, ficou ali olhando para lembrança e tentando desvendar aquela passagem cinzenta.

Em outro dia, Arthur pegou a foto e colocou sobre a colher do pedreiro. Quando este ia usá-la e, sem perceber que a gente via-o com medo, espantou com o suposto andarilho da imagem. De novo, perguntou quem havia colocado a foto sobre sua ferramenta, mas todos fizeram de arrogado. O colega que estava por trás de toda gaiatice, disse para o pedreiro que todo acontecimento da “aparição” da lembrança do finado, poderia ser um aviso para que ele parasse de ingerir bebida alcoólica. No entanto, ele quis gozar de toda conjuntura, todavia conformou e ficou calado.

Quando o colega ia dando outro susto no operário, colocando a foto na luva dele, Moises chegou na hora. Então, disse: - esse é o aviso que o Sr. Zé Osmar quer deixar pra mim?

Depois de toda brincadeira, mesmo mexendo com o emocional de Moises por alguns dias, tudo isto só veio a caracterizar que ele parece ser o porta voz da razão...
Justino Cosme – Estudante

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A besta fera sorriu para mim

Pela TV, deparei com um bicho de sete cabeças e de vários braços. Devido à sua queda, ele estava com diversos sintomas de doenças, de feiúra sem igual, indicado por economistas que dizem entender muito bem do assunto. Desde febre alta, agitação, dilaceramento dos órgãos e até suspeita de parada cardíaca, demonstrava ter. Ainda assim, conseguia respirar pelos balões de oxigênio dos caudatários, que não deixa-o, sobretudo, nos momentos mais agudos.

Na maioria das vezes, ele se apresenta igualmente uma pessoa virtuosa, e tem uma beleza abundante comparada a Psiquê, assim, se veste todo de azul. Mas em sua euforia, se traja de vermelho. Esse é o sinal da sua monstruosidade maior, e é aí que incide o perigo. Muitos dos membros se degeneram e, dependendo de cada caso, outros se fortalecem.

Para que ele saia da precariedade e do mal-estar, aumentam-se os preços da alimentação, saúde, educação, moradia, dentre outros. Corta-se verba pública para isso, para aquilo, enfim, contenção de gasto da política do Bem-Estar Social – para não dizer neoliberal!

Qualquer sinal de manifestação popular, a besta fera fica furiosa, assim, os trabalhadores (as) são “degolados (as)”. Na verdade, é devido a esse fator que a economia oscila como mariolas. Nas alturas, sobe os mercenários, quando a pressão está em baixo, salve se quem puder!

Infelizmente, poucas são as pessoas que conseguem enxergá-lo pela TV, menos ainda são as que sabem de que bicho se trata; uma vez que ele tem sete cabeças, mas se veste de um arcabouço de palavras “sofisticadas” – um empório de nomes difíceis, quando não muitas das vezes por “transação” de siglas, a exemplo de Debênture, Broker, BM&F, Nasdaq, BOVESPA, etc. – uma assombrosa feira franqueada a comercialização de ações e títulos.

No entanto, nos telejornais, especificamente, fala a respeito desses e de dezenas de outros nomes complicados como se fossem comum aos expectadores(as), com o intuito de escamotear o bicho de sete cabeças. Na intimidade, alguns chamam de bolsa de valores – coisa de quem entende do assunto. Portanto, não considero que tenha muito valor assim, já que ele não respeita a vida, sobretudo, de quem não tem moeda forte para alimentá-lo. O que vejo, é mesmo um bicho esquisito, e que não come somente criancinhas.

Justino Cosme, estudante,

domingo, 22 de agosto de 2010

Um bêbado incomoda muita gente. Três seguranças muito mais!


Bêbado é um caso sério... em rodoviária, em final de ano, então. Foi assim... Agoniado e cambaleando entre uma cadeira e outra, um bêbado mexia com as pessoas ali presentes, procurando chamar a atenção, de modo que fosse percebido.

Com uma pequena bolsa vermelha e uma garrafa de vinho, com uma camisa meio aberta e suja de creme dental, assim como os dedos das mãos. De calça justa e verde – que mais parecia outra cor não identificável – de sapatos morron nós pés, ele tirou muitas pessoas do sério, porque exalava um hálito etílico dos bravos, e com umas conversas intragáveis – quando conversava, pois soluçava mais que tudo! Ademais, ao bradar algumas palavras com muita dificuldade, espumava a boca, por conta do “maldito” creme dental que não soube usar. Na melhor das hipóteses: ele tenha se esquecido de ter completado a higiene pessoal.

Além disso, ao conversar, tinha mania de tocar nas pessoas como quem quisesse convencer do que falava, já que em palavras eram quase impossível. Aonde o bêbado ia, como não agüentava suspender à sua bolsa por inteira, arrastava-a nas pessoas que se encontrava sentada nas cadeiras de espera.

Diante do frenesi causado, foi convidado, por dois seguranças que faziam ronda ali, a retirar do local. O primeiro procurou ter mais diálogo, mais calma; diferente do segundo, que logo tentou conduzir o indivíduo pelo braço e para um canto – lugar mais espaçoso na rodoviária. Quanto mais eles falavam, procurando acalmar os ânimos do bebum, este chamava atenção das pessoas, jogando a garafa (plástica) de bebida no chão e sua bolsa de um lado ao outro, aclamando publicamente: “– Eu nãaosaiodaqui, não sôladraão, não devo nada-ni’ninguém. Conhe’çço todomundo de Fêra, de Perna’mbuco, de Serrinha... sôaamigo de’Lió,...”

Nesse tenebroso cenário, os seguranças se viam mais enrolado que fumo de corda, pelo desconforto causado ao público. Esquivando da circunstância, e prevendo o desfecho do episódio, um deles assegurou-se e altissonante, disse: “ – Depois as pessoas digam que só agimos assim porque o individuo está bêbado, é um idoso... ninguém procura compreender nossa situação”. Dito isso, solicitaram a intervenção de uma polícia, que mesmo ali presente fazia vista grossa ao caso. Ainda assim, o bêbado não se deu por convencido – como acontece com todos – já que achava porta voz da razão!

A princípio, o meganha usou a tática de um dos seguranças, toda paciência de Jô para abordar o bebum, procurando removê-lo da plataforma com maior cautela – nem parecia um policial. Contudo, o bêbado não estava nem aí para o que o praça dizia. Entre um soluço e outro, de tão embriagado, procurava convencer a polícia que estava certo do que fazia, pois dizia não incomodar ninguém ali. Chegando ao ponto de conversar “escorando” os braços no obro do praça, como se fosse um velho conhecido de outrora.

Pela digladiação das palavras dos indivíduos, o bêbado acabou enrolando com a sua própria língua (literalmente!), pois quanto mais propugnava, por excesso de bebida, encontrava menos chão para ficar sua razão etílica; assim, deixava a polícia mais arreliada.

Não havendo mais possibilidade de diálogo entre ambos, e no desequilíbrio do bebum, o meganha acabou “convencendo-o” pela força física, vez que conseguiu tirá-lo, pelo braço, do circuito das pessoas que ali estavam. Ao bêbado não lhe restou outra saída, a não ser ficar sentando e resmungando, mas quieto, esperando sua condução passar.

Justino Cosme, estudante

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Essa é para todos!

Num dia desses, andando na feira livre da cidade, inesperadamente, encontrei com Todos. Entre uma conversa e outra, ele me falava das últimas novidades, das angústias e acusações que vinha sofrendo. Pois, ele disse que se propala por aí, que é o mais beneficiado em quase todas as secretarias do governo da Bahia; outras vezes pelo federal, quando não pelo municipal.

- Contudo, isso não procede!Disse-me ressentido. Ressaltando ainda que, as pessoas mais favorecidas, e que poucos percebem, são os donos dos meios de comunicação; seja: impresso, televisivo, radiofônico, etc. – sem distinção de cor e credo. Sendo que há um grande investimento, para que eles apregoem e massifiquem as propostas do governo, nem que as mesmas não saiam do papel, como vem acontecendo.

Sem entender o que Todos falava, interroguei-o. Quando me disse que estava sendo acusado de crime de nepotismo.

- O quê? Perguntei. E de novo, ele me respondeu: - Nepotismo, cara! Uma vez que existem diversos comentários soltos, apontando ser o único favorecido nas diversas secretarias do governo. Dizem que este está ofertando: Terra para Todos, Água para Todos, Educação para Todos, Saúde para Todos, Cesta básica para Todos, Universidade para Todos, enfim... até mesmo esse mediucre texto, dizem que é para Todos! Sinceramente, não estou gostando disso e, se fosse verdade, não importaria com o tal crime.

Assim, cada vez mais, me encontro “indefinido” com as conversas do governo, que banaliza suas propostas através dos meios de comunicação, dizendo que tudo é para Todos. Contribuindo, de certa forma, para aumentar a discriminação com Todas suas ações.

Justino Cosme, estudante

Para que serve a televisão?

É cada vez mais preocupante como os meios de comunicação, especificamente a TV vem perdendo sua função: ao invés de ser um veiculo de informação, muitas das vezes, não passa de um condutor de deformação do povo, já que sua função é de difundir e, prioritariamente, legitimar as idéias da classe dominante. Se não for exagero, a opinião da maioria das pessoas é formada exclusivamente a partir da televisão, talvez seja por isso que, o educador, Moacir Gadoti (2001) afirma que o controle dela pela burguesia é mais ostensivo do que a escola. Não é por menos que pesquisas têm demonstrado que a televisão está presente em 96% das residências brasileira. E, talvez seja por isso, ela é um dos meios de comunicação que procura garantir, senão valida, a homogeneidade de pensamento de quem dela assiste.

Mesmo distanciando da TV, qualquer um pode acompanhar as informações a partir das pessoas que a assistem, vez que as notícias aparecem como se fossem verídicas, devido à inexistência de crítica por parte destas. Destarte, os comentários apregoados, advindos dos programas, jornal, etc., são falados numa mesma cor – um verdadeiro ready-mode! Isso fica, ainda, mais visível quando acontece algo de maior repercussão, a exemplo dá morte de uma artista famosa; um acidente envolvendo um grande número de pessoas, enfim; quando ocorre qualquer bestialidade!

Se reparássemos bem, as informações divulgadas nos diversos canais televisivos, sobretudo nos noticiários, são quase às mesmas. Portanto, não difere muito em quase nada uma da outra, exceto alguns comentários extravagantes ou a ordem delas no telejornal. O que demonstra haver um forte cartel também nesse espaço.

Nascida no útero da Ditadura Militar, a rede globo parece ser o único canal que tem o poder de assegurar notícia de cunho público de primeira mão, embora não se entenda o porquê dessa prioridade. Infelizmente isso acontece. A ‘atenção’ recebida nos diversos espaços, a exemplo de informações obtidas pelo Congresso Nacional, outras cedidas pela Policia Federal explícita muito bem isso.

Como se tudo isso não bastasse, há uma grande exacerbação na venda de produtos pela TV, quão fossem poucas as grandes propagandas veiculadas veementemente nos longos intervalos. Quando, muitas vezes, embutidas nas novelas, filmes, programas “interativos” e até mesmo nos telejornais. Por vergonha nacional, há até canais exclusivamente com finalidade de vender; sem contar também nos que são usados para disseminar algumas religiões. Salientando que futebol tem cadeira cativa em vários horários difundidos como “nobres”.

Diante disso, quase não existe nenhuma preocupação em fazer com os(as) telespectadores(as) tenham uma visão crítica sobre os programas que são transmitidos. Sendo que, na televisão, não há brecha para que isso ocorra, já que existe grande massificação das notícias, pois toda programação está imbuída para essa natureza. Nessas circunstancias, não resta dúvida que a função da televisão brasileira é cooptar as pessoas para torná-las alienadas, de modo que possa vender “as mercadorias enlatadas” ao seu bel prazer.

Não é à toa que há uma exploração muito grande dos meios audiovisuais, sendo que esses têm uma facilidade de pentração no cerebro, além de manter as pessoas concetradas e dósseis por mais tempo.

A esperança de uma TV, com a função que deve ter, talvez precisa ser ainda gerida nos guetos, assim, como acontece com as alternativas rádios comunitárias. Oxalá!

Justino Cosme, estudante

domingo, 25 de julho de 2010

Pode passar João Poeirão

Mesmo com uma poeira danada, avistei João Poeirão sentado, pitando um cigarro de palha, numa das esquinas da Rua Teixeira de Freitas, como se estivesse feliz e tranqüilo com a vida que leva.

É um homem simples, meio adoentado, taciturno; enrijecido pelas agruras da vida, porém, boa gente. Se não fossem os maus-tratos que lhe fazem, certamente, seria uma pessoa mais amável, extrovertida e, possivelmente, conseguiria unir forças à sua causa política. Embora seja importante, timidamente, ele luta para que os governantes vejam também a situação onde mora, porque clama por condições de calçamento para a rua, que irá beneficiar todos os moradores - caso saia.

O desgosto maior de Poeirão, que impulsiona a sua árdua peleja, é que o único pedaço do logradouro sem ser calçado é a frente das casas que seguem à dele, numa distância de uns 300 metros. Haja vista que o pavimento começa no início da Rua Teixeira de Freitas, perto do rio, e vai aproximadamente 1 km de extensão, mas “morre” antes do término.

Além disso, a insatisfação dele, igualmente, existe porque a comunidade da qual está inserido, a toda eleição municipal, serve de trampolim para políticos, pois o “pedaço da rua” já faz parte de promessa eleitoreira para um número de candidatos demagogos. Pois, uma quantidade expressiva promete que irá concluir o calçamento, de maneira que a avenida seja trafegável com mais facilidade, e que os moradores de lá não mais irão recorrer ao hospital para curar das doenças: alergias respiratórias, rinite, asma, bronquite asmática, etc., ocasionadas pela excessiva poeira.

Numa situação de indagação, ele lembra que, próximo da sua casa, existem duas instituições governamentais, CERB e o CRAS, que poderiam facilitar a construção e a continuidade da pavimentação, já que acredita que “uma coisa puxa a outra”... Mas, pelo que tenho visto, João, parece que “duas coisas afastam uma outra”.

Quem conseguiu avistar João Poeirão na esquina, percebe que a insistência dele não é de agora, pois “se perdeu na poeira da vida”, como diz Chico Buarque. E, devido à degradante situação da saúde, infelizmente Poeirão se contorce sozinho em meio à solidão “das vizinhanças”, uma vez que todo município, desde muito tempo, necessita também de pavimentação em diversas vias públicas e, mais ainda, nas estradas vicinais. Contudo, o povo anda parcialmente cego (possivelmente, devido a poeira) e encontra-se incrustado diante do grave problema.

Justino Cosme, estudante,

domingo, 18 de julho de 2010

Vote no "Santinho" para Candidato?

Devido o descalabro e práticas escusas da maioria dos nossos políticos, mandei uma carta ao céu, pedindo ajuda a Deus. Com intuito que este solucionasse os problemas gritantes aqui na terra. Em nome deste, quem me respondeu foi um Santo – não muito conhecido –, que enviou uma foto sua, contendo alguns números, uma sigla de tal partido político e com um slogan: “Na próxima eleição, vote em mim. Farei a diferença na política”. No verso desta, havia a justificativa do Criador, informando que não me respondeu pessoalmente porque andava muito ocupado com os homens e as mulheres aqui na terra, haja vista que estes, cada vez mais, estão fazendo uso abundantemente dos Pecados Capitais, sobretudo na política. Todavia Ele não citou nome de ninguém. Acredito que tenha feito essa escolha por conta da ocupação, igualmente da falta de espaço no fundo da pequena foto, pois não caberiam tantos nomes, a não ser que Deus não colocasse nomes dos maus políticos brasileiros e usasse fotos de toda legião dos Santos.

Mas voltando a carta, afora a justificativa da ausência de Deus, o nefasto do Santinho não se preocupou com o que eu havia escrito. Tentou foi amenizar a situação, como se aquilo não fosse verdade minha. Chegando ao ponto de escrever, por conta própria, certamente, que eu deveria dar mais uma chance para alguns dos políticos que eu havia citados no documento. “ - Não para todos”, como me advertiu, porque dizia ser candidato a um cargo público na próxima eleição.

Pela foto, ele aparentou ser uma pessoa boa, sendo que estampava um sorriso sublime, e cabelos mais alinhados do que meio-fio de calçada. Além disso, usava uma paletó com uma grava com as cores do partido. Aparentemente mostrava ter boas intenções na política, assim como os demais, que usaram dessa asquerosa estratégia, um tanto velha, mas usada também para os novos candidatos, que chegam à casa do eleitor/a somente em tempo de eleição.

Justino Cosme, estudante,

terça-feira, 6 de julho de 2010

A construção da verdade


Ultimamente tenho pensado um pouco. Esses dias eu estava pensando sobre o que é verdade e o que não é. O que é verdade e o que querem nos fazer acreditar que seja verdade. Eu estava pensando por exemplo, no jogador de futebol. É um profissional que ganha muito dinheiro para jogar futebol, uma coisa que muita gente acha bom de fazer. Aí eu estava pensando se o futebol profissional for, na verdade, uma grande armação. Algumas pessoas contratam os jogadores para jogar, pagam muito bem, ganham muito dinheiro. Neste caso os campeonatos são inventados, os resultados, quem vai ser campeão, tudo é combinado de acordo com a garantia de faturamento alto e a manutenção do negócio a longo prazo. Os jogadores nem sabem disso mas o mundo do futebol é um faz de conta e os torcedores... coitados são quem paga as contas.

Depois eu pensei nos políticos. Eu pensei que eles podem ser também contratados, ganham salários razoáveis e podem aumentar seu rendimento tirando alguns por fora, manipulando algum poder. Mas na verdade eles só servem mesmo de bode expiatório para receber alguma bronca que sobrar. Eles existem para assinar os papéis, para as decisões serem tomadas dentro da lei. Servem também para representar, mas não como manda a democracia representativa, sua representação é mais parecida com a representação que se faz em Hollywood, representação de atores, que disfarçam e fingem viver uma situação que não existe.

Pensei ainda nos grandes bandidos, os que estão na moda são os grandes traficantes. Esses também podem ser contratados. Pra que alguém iria contratar um bandido? Para uma função parecida com a do político: a de bode expiatório. Se todo dia prende-se grandes traficantes e o tráfico continua a cada dia com mais fôlego certamente não estão prendendo as pessoas certas. Esses grandes traficantes são contratados para isso mesmo, serem presos, mostrar a cara na televisão e o político (que também é contratado, lembra?) dar entrevista mostrando que o governo está trabalhando.

Se tudo isso é verdade, então eu pensei, qual a diferença entre o Jornal Nacional e as novelas que vêm antes e depois dele? É que no Jornal eles querem nos fazer crer que aquilo é a mais pura verdade enquanto que a novela diz que é ficção. Aí eu pensei o quanto as fronteiras da realidade são flexíveis e pensando nisso fui viajando pelo território da realidade e descobri como às vezes a realidade é sem graça e pensei como o pensamento é bom porque nele você constrói a fronteira da realidade onde você quiser e descobri que o pior é que tem gente que constrói as fronteiras da sua realidade e quer fazer as outras pessoas acreditarem mesmo que seja à força naquela realidade que construiu arbitrariamente e descobri que o pior ainda é que tem muita gente que acaba acreditando nessa realidade mesmo sem se preocupar em construir a sua própria realidade até que aquela realidade arbitrária se torna a mais pura verdade... E parei de repente com meus pensamentos quando cheguei nessa pura verdade, coisa mais sem graça, que não permite alternativa, é uma prisão de onde não se pode sair, pronta, acabada, (cheia de vírgula) jogada em cima da gente. Eu prefiro o pensamento, nele posso viajar e descobri outras verdades.

Mas tem gente que não gosta do pensamento. Como o general de Brecht que controla tudo, mas não o defeito de pensar que o homem tem. Ou os canibais de cabeça do metrô 743 de Raul, que vivem à caça dos homens que vivem parados “porque quem pensa, pensa melhor parado”; e avaliam o preço das cabeças pelo nível mental que as pessoas andam usando. Aí eu parei de novo, agora com um novo pensamento: será quem contrata os jogadores de futebol, os políticos e os bandidos? Será que não é o general ou os canibais de cabeça ou algum amigo deles ou mesmo o patrão deles? E talvez, general e canibal de cabeça seja uma mesma pessoa?! Bem, seja como for continuei pensando para fugir dessa realidade em que me jogaram, continuo pensando para construir as fronteiras da minha própria realidade porque parece que seria melhor se cada um construísse sua própria realidade e respeitasse a realidade dos outros.

Anísio Filho, historiador – Agrovila 08, Serra do Ramalho-BA

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Mulher sem coração!


É redundante dizer, mas uma mulher bonita muda a rotina (diria) de qualquer homem, sobretudo, da terceira idade. O que aconteceu numa agência dos Correios, duma cidadezinha aqui do interior, comprova o que estou dizendo.

Um senhor nos seus noventa e tantos anos de idade, viúvo, solitário, um pouco cansado da vida, morando sozinho numa grande casa, encantou com a beleza da linda moça – a atendente dos Correios. Não muito levado ir à agência devido sua debilidade física e, mormente, sem ter o que fazer lá, exceto tirar seu “aposento da aposentadoria” cada inicio do mês.

Contudo, após perceber a nova funcionária da empresa, ele passou a ir nos Correios com mais freqüência, dado que a ela era solteira, muito bonita, jovial, educada, e espontaneamente estendia um sorriso bonito e branco nos dentes. Mesmo não sendo de costume, quase todos os dias lá estava o Sr. Alberto: com os cabelos à “brilhantina”, bengala na mão direita, perfumado e a roupa do corpo mais alinhada que meio-fio de calçada.

Para não levantar suspeitas do interesse pela moça, sempre usava a desculpa de que estava esperando uma carta vinda de São Paulo. Mesmo que o carteiro estivesse presente, aproveitava que era isento da fila, para dirigir a pergunta diretamente à Marinez. - Minha senhorita, você sabe me dizer se a minha carta chegou? Sem saber do que se tratava, ela dizia: - Ainda não. Aliás, pergunte aí para o carteiro. Ele saberá melhor que eu, pois ele é o responsável por essa repartição, senhor!

As palavras proferidas pela linda moça soavam aos ouvidos dele como uma canção de ninar. Desse modo, seu Alberto estava sempre na agência dos Correios à procura duma carta que, certamente, não existia. Em algumas oportunidades indo duas vezes no mesmo dia.

Desconfiado da sua insistente presença, e do interesse dele pela atendente, o gerente começou a fazer brincadeiras, de modo que não corresse com o cliente, mas que o mesmo desconfiasse que estava incomodando a moça. Assim, Augusto falou com ele: - Alberto, o senhor precisa usar óculos de graus, de repente você está vendo uma mulher mais bonita do que realmente é. Nisto, com as palavras trêmulas, ele retrucou: - Que nada 'Gusto', essa mulher é mesmo bonita. Se eu usar óculos, ela vai ficar ainda mais bonita. Infelizmente, meu filho, ela não dá muito assunto pra'eu... e pena que a carta nunca chega!

Passando alguns dias depois, lá estava o seu Alberto de óculos. De longe procurou flertar a moça, no entanto, acabou chamando atenção do gerente, que gritou: - Seu Alberto, você ficou muito bacana com esses óculos, espero que não “estranhe” a beleza da moça. Ele, como um bom galanteador, não dispensava às oportunidades - mesmo sem a moça ter dito nada, a não ser olhá-lo de soslaio - foi logo dizendo: - Que nada Gusto, como eu te disse, ela ficou foi mais bonita, muito mais formosa. Se ela topar casar comigo, prometo que farei ela feliz, e darei tudo que ela quiser! As pessoas que estavam presentes, mesmo sem saber da história, entenderam tudo, vez que seu Alberto estava mais vaidoso do que de costume. Suas idas na repartição eram mais comuns que antes, contudo, ele já nem perguntava sobre a tal carta, ia direto ao assunto, ou seja, buscava maneira de chamar atenção da atendente, que cada vez mais, via-se no círculo de fogo, e sem saber o que dizer mediante cantadas baratas do velhinho.

Numa outra brincadeira, o gerente falou pra ele: - Adalberto, sinceramente, para melhorar sua aparência, você só falta fazer uma coisa, que já deveria ter feito há muito tempo. Devia ajeitar os seus dentes, de maneira que sua boca ficasse um tanto mais firme, cheia, mais larga, pois nenhuma mulher vai querer beijar o senhor neste estado. Ele sem ter muito quer fazer, agradeceu seu Augusto pela força, pela gentileza, e logo após saiu. Mas antes, quis saber a opinião de Marinez, mas ela não deu muito ouvido. Exceto concordou com o ponto de vista do gerente, contudo lembrou a seu Alberto que ele já era um homem idoso, assim, deveria procurar uma mulher também idosa, ou um pouquinho mais próxima da idade dele.

Sem ter o que dizer, saiu da agência e voltou somente duas, três semanas depois. A princípio, o gerente se viu aliviado, e a moça mais ainda... Assim que seu Alberto chegou, foi logo abrindo a porta da repartição (como se quisesse dizer: estou melhor agora?), com um sorriso estampado na boca, de um canto ao outro da orelha. De longe era possível perceber as dentaduras que havia colocado, vez que seu sorriso ficou mais largo. Todavia, esse largo sorriso foi se desfazendo, ao saber que Marinez havia sido deslocada desta agência para uma outra.

Justino Cosme, estudante,

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Breve relato da carreira de João de Paratinga – compositor, cantor e educador

João Pereira de Souza Filho nasceu em Paratinga-BA, oeste baiano, mas passou a sua infância até os dez anos de idade morando com seus pais na Comunidade de Mangal/Barro Vermelho. É compositor/educador, graduado em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB, é um militante e defensor da cultura ribeirinha, com enfoque maior para os quilombos. Têm alguns escritos, como um artigo aprovado pela SBPC do Pará e UESB, intitulado “A Educação na Cultura Quilombola e o Currículo”, construído junto com outros graduandos do curso de Pedagogia. Em dezembro de 2008, teve outro artigo publicado nos anais da UNEB, com o tema: “A Capoeira na Construção da Identidade Étnico-Raciais”.

Como compositor, tem um CD intitulado “Canta Vida”, em 2005 a qual foi muito trabalhado nas escolas, por ter temáticas relacionadas às questões ambientais e raciais. Em 2007, participou do Festival Universitário, promovido pela UNEB/UFBA, com a canção: “Canto pela Vida”, de sua autoria, participou do Projeto “Visto Cultural” em Bom Jesus da Lapa – Ba. Participou da Semana do São Francisco, Movimento organizado pela FUNDFRAN, em Ibotirama-Ba. Participação nos eventos da Semana da Consciência Negra na UNEB, Bom Jesus da Lapa-Ba. Ultimamente tocou no Congresso Nacional da PJMP, em Bom Jesus da Lapa, no Beco Cultural, antecipando o Show de Juraildes da Cruz e Eventos Culturais organizados pela PJMP de Paratinga.

Em 2009 tem a oportunidade de produzir o seu 2º CD intitulado “Alma do Cantador” e de realizar palestras sobre temáticas raciais em cinco Comunidades Remanescentes de Quilombo do Território Velho Chico, custeado pelo Fundo de Cultura da Bahia e Funceb, através do Projeto “Cor e Canto”. Logo em seguida, já em 2010, conseguiu apoio financeiro da CESE, Coordenadoria Ecumênica de Serviço para realização de Oficinas sobre: Questões de Gênero: Violência contra Mulher e Juventude, Terra e Cidadania e a divulgação do CD, com noite cultural em Assentamentos Rurais em Paratinga, de forma que o trabalho desse artista seja mais conhecido e divulgado.

Por isso, leitores, sugiro que ouçam o CD “Alma do Cantador”, deste grandioso, mas humilde cantor e compositor. Tendo em vista ser maravilhoso, pois anuncia e denuncia as macelas sofridas pela população ribeirinha, bem como a natureza, especificamente, o rio São Francisco. Além das deliciosas músicas remeterem a população camponesa, ainda João, generosamente, da voz aos quilombolas através de suas composições.

domingo, 6 de junho de 2010

A foto com o presidente Lula


Um dia desses, na universidade, quando estávamos dando uma formação para professores (as) camponeses (as) – sobre a mesma temática – fomos agraciados com a presença do Presidente Lula, que apareceu sem ter nos comunicado com antecedência. Na verdade, nem precisava, pois Presidente da República é presidente!

Por felicidade minha, ele apareceu bem na hora que iria dá minha singela contribuição no seminário. Aí já viu, foi àquele maior alvoroço, perdi até o fio da miada. Se tinha vontade de tirar uma foto com Lula, a pretensão aumentou ainda mais.

O que chamava nossa atenção e nos deixava felizes foi o presidente ter aparecido em um pequeno seminário sobre Educação do Campo. Acredito que os presentes, por um instante, pensaram na valorização que Lula estaria dando, dessa vez, a educação. Embora, o interesse maior de todos parecia que estava em tirar uma foto ao lado do homem e pouco se lembravam sobre formação, ou coisa parecida. Afinal de contas, não é todo dia que aparece o Presidente.

Sendo assim, fui logo fazendo a pouse, já que me senti no direito de ser o primeiro a ser fotografado, tendo em vista que seria o próximo a apresentar o conteúdo que teria sido planejado pelo o grupo. Sem contar ainda que a prática autoritária persegue-me sem muita insistência. Mais antes, deixamos o presidente falar sobre sua vinda à universidade, e sem que ele abrisse a boca – talvez fosse até melhor assim –, com muita intimidade, ao lado dele, que nem papagaio de pirata, fui logo perguntando: – Lula, depois você tira uma foto comigo?

Nem precisou que o presidente me respondesse, abracei-o e passei a câmera digital para um colega. Por desespero meu, o infeliz não soube utilizá-la! Sem muita cordialidade e meio suado, como sempre, Lula aproveitou da minha brecha para falar sobre sua vinda. Teve a coragem de falar que a transposição do rio São Francisco era importante para os ribeirinhos. Antes que ele concluísse, passei a digital para uma outra pessoa, e fui logo abraçando-o pelo lado esquerdo (de propósito!). Repentinamente, uma professora, aproveitando da situação, atravessou em minha frente agarrando Lula pelo lado direito para sair também na tal fotografia. Em momento algum tive objeção pela insistência, já que ele, mais do que ninguém, tem um histórico recheado de muita perseverança, pois foi candidato à presidência várias vezes.

Por infelicidade minha, ao consultar a digital, tinha saído na foto somente o rosto do presidente com “os dentes amarelo” e o sorriso à Monaliza da professora. Quando eu ia fazendo a terceira pouse, a colega mostrou a câmara, que dava um aviso: “Bateria descarregada”! A tecnologia tem dessas coisas: no momento que a gente mais precisa, nos deixa na mão.

Mas se a sorte não estava comigo no sonho, ela acordou-me para a realidade.

Justino Cosme, estudante

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O povo campesino clama por mais e melhores escolas


Por mais que pesquisas apontem que o índice de educação escolar vem aumentando, é de considerar que não podemos celebrar de maneira pomposa. É preciso ter os pés sobre o chão, porque o débito educacional que o país deve aos exorbitantes analfabetos é quase incalculável, haja vista que temos um número considerável de pessoas que nunca foi a escola, ou permaneceram pouco tempo nela, principalmente a população oriunda do campo. Sendo que freqüentar uma escola nunca foi “privilégio” da classe menos favorecida. Isso não quer dizer que esta nunca quis ir a uma, mas na escolha entre estudar e trabalhar, este sempre fala mais alto, uma vez que garante, a princípio, a sobrevivência humana.

No campo, a situação ainda é mais agravante, porque além da dificuldade que o trabalhador e trabalhadora têm para estudar, devido o cansaço da dura jornada de trabalho durante o dia. Ainda hoje, muitas comunidades não disponibilizam de uma escola que possam atendê-los, como se o Direito à Educação, conforme promulga a Leis de Diretrizes e Bases – LDB, fosse mérito apenas da população da cidade. Na falta da escola no e do campo, muitos desistem de estudar e outros, mesmo com muita dificuldade, buscam ter acesso a ela, pois a educação é uma expectativa de uma vida melhor, ou mais independente do povo da cidade.

Contudo, quando chegam à escola da cidade, os obstáculos são inúmeros: as condições do transportes que os conduz não são das melhores; cansaço físico latente; falta tempo extra para estudarem; dificuldade em organizar enquanto grupo, pois nem sempre os estudantes moram perto uns dos outros; também não têm oportunidade de fazer pesquisas na própria escola – quando há recursos didáticos –, porque o acesso a ela é somente no momento que estão na sala de aula. Para piorar a situação, ocultamente, são discriminados por uma boa parte dos professores e também pelos próprios colegas, já que são vistos como gente sem cultura, sem conhecimento; jocosamente, como “estudantes da roça”, quão fosse impossível ter uma vida digna nesta, enfim.

Diante da situação que assola a trabalhadora e o trabalhador, mormente, o campesino, estudar nos moldes como a escola está estruturada ainda não é nada fácil. Contudo, é impossível não reconhecer que a distancia entre a escola e o trabalhador tenha ficado menor, contudo precisa melhorar ainda mais. E os profissionais dela precisam reconhecer que fora dela há muitas pessoas que necessitam urgentemente sair do estágio onde se encontram – analfabetos. Não por opção, mas devido a estrutura sócio-política do país que sempre os empurrou para este fim.

De outro modo, a escola precisa ser mais atraente e menos opaca, porque um trabalhador, que após desenvolver uma árdua jornada de trabalho, não suporta fingir que está contente com má instituição de ensino onde estuda, pois as forças contrárias à permanência nela são maiores.

Justino Cosme, estudante

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ler devia ser proibido


A pensar a fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.Afinal das contas, ler faz mal às pessoas: acorda o homem para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário que vive. A leitura induz a loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madamme Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram, meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinonte.Quanto a pobre Emma Bovary, tornou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.

Ler realmente não faz bem. Acriança que ler pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzindo a crer que tudo pode ser de outra forma.Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável.Liberta o homem excessivamente.Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquece-lo com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo bem de Aristóteles: o conhecer. Mas pra que conhecer se,na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o deve, enfim é fazer o que dele espera e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem necessariamente ser longos. Ler pode gerar invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos.Nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais que um punhado de pó em movimento.Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas.

É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não. Não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus folhos. Podem leva-los a desenvolver esse gosto pala aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de civilização, mas tão pouco sem conhecer as guerras, destruição e violência. Professores, não contem histórias podem estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a reposição para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, podem gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos, em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pudessem articular bem as demandas, afincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista da sua liberdade.

O mundo já vai por bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédios, projetos, manuais, etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. É esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim.Á máquina do tempo. Para o homem que não lê, não há fronteiras, não há correntes, prisões tampouco. O que pode ser mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilegio concedido apenas a alguns. Jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio a alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um. Afinal de contas, a leitura é um poder e o poder é para poucos. Para obedecer, não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos. A leitura é obscura. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar e o mundo do outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

In: PRADO, J.e CONDINI. P. (Orgs.) A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus. 1999.Pp71-3

Prefiro Zé, na próxima eleição


Nesse ano acontecerá mais um período eleitoral, em que escolheremos, mais uma vez, nossos candidatos (as) a deputado (a), senador (a), governador (a) e presidente, ou seja, representantes que irão assumir os poderes do executivo e legislativo. Pelo que tem demonstrado, os políticos partidários estão se organizando, como acontece a cada pleito. Os extensos conchavos partidários rolam soltos, troca de partido, de sigla – um verdadeiro proselitismo e um “disse-me-disse” amargam pelo vento. Muitos dos que estão viciados na arte de(s) governar trocam seus velhos paletós de outrora. Até passar “massa corrida” na cara, com o intuito de esconder as asquerosidades estampadas no rosto, acontece. Afinal de contas, para não sair mal na foto vale todo esforço! Enquanto a maioria do povo, com o sorriso amarelo de lagarto, espera incólume a “banda passar”.

Embora a embalagem conta, na próxima, prefiro votar em Zé-ninguém. Esse, sim, tem compromisso com os pobres e alijados. Esteve sempre presente nas eleições, mesmo que tenha sido “apenas” para engrossar as urnas. Aliás, se não fosse ele, decerto não haveria eleição.

Diferentes de outros (os) candidatos(as) impertinentes, Zé-ninguém sempre esteve ao lado do povo. Muitas das vezes, esteve sozinho é verdade, sobretudo quando precisou de “desfrutar” dos Serviços Públicos, a exemplo de Saúde, Educação, Segurança, dentre outros. Coitado do Zé, sempre esteve lutando contra o jugo dessa sociedade excludente, e mais que Ninguém, Zé é quem leva o país com a carga dos vultosos impostos nas costas.

Por isso, minha gente, nesse ano, vote nele, pois mais do que qualquer outra pessoa, Zé-Ninguém conhece todas as mazelas que afligem o povo, pois ele também faz parte da escoria da sociedade. Além do mais, Zé não é nenhuma (desculpe a expressão machista) “Maria vai com as outras”, nem tão pouco um Zé-sem-graça como andam falando por aí. Sendo assim, na próxima, vamos acabar com a história do Patinho Feio, enquanto o Lobo Mal passeia de cordeiro a cada nova eleição.

Justino Cosme – estudante

O desequilibrista

No alvorecer do dia, no calor que à cidade “insiste” em fazer, sob uma plataforma de um posto de gasolina, sem equilibro, ele deixa umas moedas miúdas caírem do bolso da camisa ao chão. Abaixa para catar: cata uma, mais outra... que nem galinha catando milho. Ao tentar colocá-las no bolso, deixa caírem novamente. Aí começa a peleja de novo.

Assim que apanha os níqueis, meio trôpego, como se tivesse buscando apoio, tenta escorar-se em um grande saco que carrega com todos os seus pertences. Ao se levantar da “seleção” das moedas e ao apanhar o saco bruscamente, deixa algumas peças de roupas emergirem dele. Meio trêmulo, pega uma peça, outra, e com mau-vontade e impaciente devolve-as ao saco violentamente.

Depois de tudo arrumado e balbuciando algumas palavras consigo mesmo, mas como se estivesse falando com alguém, ele sai cambaleando e tentando se firmar entre uma coluna e outra da plataforma. Ao tentar atravessar a avenida é levado pelo vento de uma carreta que passa em alta velocidade. O individuo não morre, entretanto tudo cai esparramado ao chão: ele, moedas, roupas e um jornal “vencido” e meio amassado, que voa do saco e chega aos meus pés, com a manchete: “Aumenta o índice de alcoólatras e miseráveis na Bahia”.


Justino Cosme, estudante

Do livro, pelo menos a leitura


Sou um leitor tardio, quero dizer, o meu contato com os livros começou nos meus quinze anos, relativamente tarde, mas não tarde demais. Os livros sempre me chamaram atenção. Menos os livros didáticos, não consigo considerá-los como livros, para mim são mesmo cartilhonas. Não oferecem nenhum chamariz sobre as coisas do mundo que possa mexer com os nossos sentimentos. A única coisa que me lembro de uma dessas cartilhas é o texto “o menino barrigudo”. Mas especificamente do trecho em que um cavaleiro vai passando e pergunta: - menino, essa estrada vai para onde? Audaciosamente ele responde: - ela não vai a lugar nenhum, nós é que vamos nela.

Só hoje consigo saber por que isso permanece em minha memória. A coragem, a audácia de o mais fraco sempre dizer para o mais forte que ele também é fraco, ou que o aparentemente mais fraco também é forte e com isso enfraquecer o que se acha superior. Reporto ao contato mais recente que tive com uma das peças de Brecht, o mendigo ou o cachorro morto. Ali o mendigo tem a audácia de dizer para o imperador, quando interrogado por este sobre a opinião que tem sobre ele, no ato responde: -não existe imperador. Só o povo pensa que existe um, e só um único homem pensa que é imperador. Num trecho mais adiante, o imperador ao dizer que domina os homens e que por isso eles te respeitam, o mendigo responde: - a rédea também pensa que domina o cavalo, o bico da andorinha pensa que orienta o seu vôo e a ponta da palmeira pensa que arrasta a árvore em direção ao céu!

São também essas identificações que encontramos nos livros que nos fazem sempre querer ler mais e mais. Identificações encontradas nos atos e personalidades que gostaríamos de pelo menos imitar, mas que estão bem distante de nós, só estão presentes dentro de nós, em nossas mentes.

Mas além dessas identificações, alguns livros nos proporcionam vivências, sentimentos, fantasias, viagens inconcebíveis de outra forma. E esses experimentos que determinadas leituras nos proporcionam é que são importantes, pois são elas que vão moldando nosso ser, nossa forma de ver o mundo, nossa forma de agir no mundo e com o mundo.

Eu, particularmente, tem algumas obras que marcaram, e marcam, diga-se de passagem, a minha vida. Sem tê-las lido, certamente não estaria escrevendo este texto.

A primeira foi a guerra do fim do mundo, de Mário Vargas Llosa. Se a leitora ou leitor já teve oportunidade de lê-lo sabe que é uma das grandes obras literárias que fala da guerra de Canudos e da saga de Antonio Conselheiro. Por vários motivos este livro me marcou. Primeiro pelo assunto que aborda. Segundo, por ter sido o primeiro livro que li por completo, e esta foi uma grande façanha, pois ele é composto de 553 páginas. Para um incipiente leitor é uma enormidade. Tanto é que demorei um ano para terminá-lo. Valeu muito a empreitada. Depois dele, livros de 200 páginas não era mais bicho de sete cabeças, alem disso o interesse por conhecimento e pelas viagens tornavam as leituras cada vez mais freqüentes.

Livros são obras de arte. Para mim um livro pode causar transformações, para outro pode não dizer nada, e vice-versa. Cada ponto de vista, é a vista de um ponto.

Assim continuou minha caminhada no mundo da leitura. Nela me apareceu Contos, de Machado de Assis. Ali encontrei a missa do galo e a cartomante. Depois de tê-los lido fiquei num estado de tal impressão que tive que sentar por um tempo encostado na cama e ficar pensando naqueles contos. Como diz o senso comum, pensei que fosse enlouquecer. O pior é que enlouqueci mesmo, hoje estou mordendo cachorro louco, só para lê mais um livro.

Nessa caminhada débil leio muita coisa boa, medianas e ruins. É necessário ler de tudo um pouco, pois precisamos ser críticos, mas precisamos ser responsável ao criticar e para isso é necessário conhecer. Então me aparece mais um livro marcante: Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire. Leio e acabo descobrindo que as coisas no mundo não eram como diziam e como eu pensava que era. Percebo que ele tem uma rachadura enorme. De um lado está a minoria que possui bens e poder, do outro estamos nós, com nossa mão-de-obra para vender para o outro lado.

Aí encontro alguns livros de Karl Marx, leio e descubro que essa separação chama-se luta de classes e que eu pertenço a classe que vem perdendo desde algum tempo, está sempre sendo explorada, que é a classe trabalhadora. Só que ao contrário de um jogo, eu não devo tentar ir para o outro time, mais sim fortalecer o que eu pertenço.

Assim continua minhas leituras: livros bons, medianos e ruins. Encontro As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano. Descubro que tudo que havia escutado e lido até ali sobre a descoberta da América era uma farsa. Nunca existiu descoberta, mas sim invasão, espoliação, massacre e colonização, esta é a realidade.

É clarividente que livro bom não precisa tratar especificamente de um assunto para ser tratado como tal. Tenho a impressão que alguns escritores podem escrever sobre qualquer coisa, que farão uma grande obra. Mas reconheço que é só impressão. Algumas obras exigem tanto estudo, tanta pesquisa, que torna quase impossível para a maioria dos seres humanos. Assim, por exemplo, são os trabalhos de Marx.

Outros não exigem tão dispendioso trabalho, mas além de requererem certa bagagem de conhecimento, precisa do arranjo criativo do autor. Assim é Machado de Assis e Oscar Wilde. Deste li O retrato de Dorian Gray. Sinceramente, por mais de uma semana não consegui lê outra coisa, de tão impressionado que fiquei ao terminar a leitura. Pensava tanto no personagem que transferiu seu envelhecimento para seu retrato (ele não envelhecia, mas sim seu retrato escondido no porão), quanto na capacidade do autor de ter feito uma obra tão espetacular como aquela, criado história tão impressionante.

Tardiamente chegou a minha mão A metamorfose, de Franz Kafka. Digo tardiamente porque chegando ao trigésimo aniversário é um tanto perigoso. Pode ser que a maldição de Gregor (personagem que acorda transformado num horrível inseto), comece a se espalhar também para os leitores. Já pensou, eu com dois filhos para criar e sem ter como? Porque me transformei num inseto?

Não me transformei em inseto, mas...infelizmente, não saí ileso. Depois de tanto morder cachorro louco e lê livros, comei a delirar. Aí já sabe...comecei a escrever. É loucura, meu amigo e minha amiga! Muita loucura!

Luiz Adão, aprendiz. Bom Jesus da Lapa-BA
14/10/2009, 00h49min

O pão nosso de cada dia!


Depois daquele estrépito na rua, na aurora do dia, não mais conseguir dormir. Se bem que tentei, e quando ia pegando no sono ouvir de novo um grito, um tanto mais grave, quase indecifrável, de uma segunda pessoa. Contudo entendi-o somente pela metade: “...ôlhaaaopaaaão”. Sonolento e sem coragem para decifrar o que se passava ali fora, fiquei amargando na cama até o café da manhã...aos meus ouvidos o barulho soava como se alguém estivesse lapidando uma pedra.

Os dias foram passando, e os gritos iam repetindo sempre nos mesmos horários, agora de maneira mais compreensível, já que os meus ouvidos foram se afinando ou acostumando com o que era quase impossível outrora. Desse modo, fui entendendo que aqueles ruídos que ocorriam todos os dias pela manhã era simplesmente vozes de dois rapazes, um mais moço, que vendiam pães pelas ruas da cidade: um ia à frente e o segundo mais atrás, no raio de cem metros. No entanto, ambos usavam o mesmo bordão, com a diferença do trocadilho, para chamar atenção da freguesia que, possivelmente, estaria dormindo. Um deles gritava: “Moradooooooooor, ooolha ô paaaão”! O outro – como estivesse respondendo – cadenciado, falava: “Ooolha ô paaaão, moradooooooooor!

Sem dúvida, essa prática de vender pão pelas ruas da cidade por uns dias mexeu comigo. Não somente por ter acordado-me algumas vezes, mas porque também fiz isso quando morava na ex-pacata cidade chamada Santa Maria da Vitória.

Ainda bem que isso, e tantas outras coisas boas, ainda é possível se vê na sossegada cidade Feira da Mata-BA.

Justino Cosme, estudante

Coisa do mudo-moderno


-Bom dia! Disse ao senhor que estava cabisbaixo tomando um delicioso café com biscoito no refeitório do hotel, onde eu estava também hospedado. Contudo, ele nada me respondeu, terminou tomar o café e saiu. No outro dia, fiz a mesma coisa, disse: - Bom dia, senhor! Mas nada dele me responder. No dia seguinte, a cena se repetiu.

Quando pensa que não, encontro o referido senhor pedindo esmolas aos transeuntes que passavam na rua. Com uma das mãos e com a boca em murmúrios tentava explicar mímicamente o que queria; com a outra segurava uma “credencial” para reforçar o que buscava dizer, em resumo estava escrito: “Ajude o surdo-mudo. Ele também é filho de Deus”. Depois disso, entendi o porquê dele não ter me respondido pelas manhãs, pois encontrava-o absorto descostas e cabisbaixo sorvendo uma xícara de café. Desse modo, falava com ele, mas o mesmo não me ouvia, e nem conseguia fazer a leitura labial do que eu dizia.

Contudo, fiquei sem entender uma coisa: como é que um senhor, surdo-mudo, que pede esmolas pelas ruas, tem condições financeiras de hospedar num dos hóteis mais “nobres” da cidade?

É... minha gente, o negócio de pedir esmola parece que está mesmo prosperando! Logo, logo largo essa vida de carteiro itinerante.

Justino Cosme, estudante,