segunda-feira, 28 de junho de 2010

Mulher sem coração!


É redundante dizer, mas uma mulher bonita muda a rotina (diria) de qualquer homem, sobretudo, da terceira idade. O que aconteceu numa agência dos Correios, duma cidadezinha aqui do interior, comprova o que estou dizendo.

Um senhor nos seus noventa e tantos anos de idade, viúvo, solitário, um pouco cansado da vida, morando sozinho numa grande casa, encantou com a beleza da linda moça – a atendente dos Correios. Não muito levado ir à agência devido sua debilidade física e, mormente, sem ter o que fazer lá, exceto tirar seu “aposento da aposentadoria” cada inicio do mês.

Contudo, após perceber a nova funcionária da empresa, ele passou a ir nos Correios com mais freqüência, dado que a ela era solteira, muito bonita, jovial, educada, e espontaneamente estendia um sorriso bonito e branco nos dentes. Mesmo não sendo de costume, quase todos os dias lá estava o Sr. Alberto: com os cabelos à “brilhantina”, bengala na mão direita, perfumado e a roupa do corpo mais alinhada que meio-fio de calçada.

Para não levantar suspeitas do interesse pela moça, sempre usava a desculpa de que estava esperando uma carta vinda de São Paulo. Mesmo que o carteiro estivesse presente, aproveitava que era isento da fila, para dirigir a pergunta diretamente à Marinez. - Minha senhorita, você sabe me dizer se a minha carta chegou? Sem saber do que se tratava, ela dizia: - Ainda não. Aliás, pergunte aí para o carteiro. Ele saberá melhor que eu, pois ele é o responsável por essa repartição, senhor!

As palavras proferidas pela linda moça soavam aos ouvidos dele como uma canção de ninar. Desse modo, seu Alberto estava sempre na agência dos Correios à procura duma carta que, certamente, não existia. Em algumas oportunidades indo duas vezes no mesmo dia.

Desconfiado da sua insistente presença, e do interesse dele pela atendente, o gerente começou a fazer brincadeiras, de modo que não corresse com o cliente, mas que o mesmo desconfiasse que estava incomodando a moça. Assim, Augusto falou com ele: - Alberto, o senhor precisa usar óculos de graus, de repente você está vendo uma mulher mais bonita do que realmente é. Nisto, com as palavras trêmulas, ele retrucou: - Que nada 'Gusto', essa mulher é mesmo bonita. Se eu usar óculos, ela vai ficar ainda mais bonita. Infelizmente, meu filho, ela não dá muito assunto pra'eu... e pena que a carta nunca chega!

Passando alguns dias depois, lá estava o seu Alberto de óculos. De longe procurou flertar a moça, no entanto, acabou chamando atenção do gerente, que gritou: - Seu Alberto, você ficou muito bacana com esses óculos, espero que não “estranhe” a beleza da moça. Ele, como um bom galanteador, não dispensava às oportunidades - mesmo sem a moça ter dito nada, a não ser olhá-lo de soslaio - foi logo dizendo: - Que nada Gusto, como eu te disse, ela ficou foi mais bonita, muito mais formosa. Se ela topar casar comigo, prometo que farei ela feliz, e darei tudo que ela quiser! As pessoas que estavam presentes, mesmo sem saber da história, entenderam tudo, vez que seu Alberto estava mais vaidoso do que de costume. Suas idas na repartição eram mais comuns que antes, contudo, ele já nem perguntava sobre a tal carta, ia direto ao assunto, ou seja, buscava maneira de chamar atenção da atendente, que cada vez mais, via-se no círculo de fogo, e sem saber o que dizer mediante cantadas baratas do velhinho.

Numa outra brincadeira, o gerente falou pra ele: - Adalberto, sinceramente, para melhorar sua aparência, você só falta fazer uma coisa, que já deveria ter feito há muito tempo. Devia ajeitar os seus dentes, de maneira que sua boca ficasse um tanto mais firme, cheia, mais larga, pois nenhuma mulher vai querer beijar o senhor neste estado. Ele sem ter muito quer fazer, agradeceu seu Augusto pela força, pela gentileza, e logo após saiu. Mas antes, quis saber a opinião de Marinez, mas ela não deu muito ouvido. Exceto concordou com o ponto de vista do gerente, contudo lembrou a seu Alberto que ele já era um homem idoso, assim, deveria procurar uma mulher também idosa, ou um pouquinho mais próxima da idade dele.

Sem ter o que dizer, saiu da agência e voltou somente duas, três semanas depois. A princípio, o gerente se viu aliviado, e a moça mais ainda... Assim que seu Alberto chegou, foi logo abrindo a porta da repartição (como se quisesse dizer: estou melhor agora?), com um sorriso estampado na boca, de um canto ao outro da orelha. De longe era possível perceber as dentaduras que havia colocado, vez que seu sorriso ficou mais largo. Todavia, esse largo sorriso foi se desfazendo, ao saber que Marinez havia sido deslocada desta agência para uma outra.

Justino Cosme, estudante,

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Breve relato da carreira de João de Paratinga – compositor, cantor e educador

João Pereira de Souza Filho nasceu em Paratinga-BA, oeste baiano, mas passou a sua infância até os dez anos de idade morando com seus pais na Comunidade de Mangal/Barro Vermelho. É compositor/educador, graduado em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB, é um militante e defensor da cultura ribeirinha, com enfoque maior para os quilombos. Têm alguns escritos, como um artigo aprovado pela SBPC do Pará e UESB, intitulado “A Educação na Cultura Quilombola e o Currículo”, construído junto com outros graduandos do curso de Pedagogia. Em dezembro de 2008, teve outro artigo publicado nos anais da UNEB, com o tema: “A Capoeira na Construção da Identidade Étnico-Raciais”.

Como compositor, tem um CD intitulado “Canta Vida”, em 2005 a qual foi muito trabalhado nas escolas, por ter temáticas relacionadas às questões ambientais e raciais. Em 2007, participou do Festival Universitário, promovido pela UNEB/UFBA, com a canção: “Canto pela Vida”, de sua autoria, participou do Projeto “Visto Cultural” em Bom Jesus da Lapa – Ba. Participou da Semana do São Francisco, Movimento organizado pela FUNDFRAN, em Ibotirama-Ba. Participação nos eventos da Semana da Consciência Negra na UNEB, Bom Jesus da Lapa-Ba. Ultimamente tocou no Congresso Nacional da PJMP, em Bom Jesus da Lapa, no Beco Cultural, antecipando o Show de Juraildes da Cruz e Eventos Culturais organizados pela PJMP de Paratinga.

Em 2009 tem a oportunidade de produzir o seu 2º CD intitulado “Alma do Cantador” e de realizar palestras sobre temáticas raciais em cinco Comunidades Remanescentes de Quilombo do Território Velho Chico, custeado pelo Fundo de Cultura da Bahia e Funceb, através do Projeto “Cor e Canto”. Logo em seguida, já em 2010, conseguiu apoio financeiro da CESE, Coordenadoria Ecumênica de Serviço para realização de Oficinas sobre: Questões de Gênero: Violência contra Mulher e Juventude, Terra e Cidadania e a divulgação do CD, com noite cultural em Assentamentos Rurais em Paratinga, de forma que o trabalho desse artista seja mais conhecido e divulgado.

Por isso, leitores, sugiro que ouçam o CD “Alma do Cantador”, deste grandioso, mas humilde cantor e compositor. Tendo em vista ser maravilhoso, pois anuncia e denuncia as macelas sofridas pela população ribeirinha, bem como a natureza, especificamente, o rio São Francisco. Além das deliciosas músicas remeterem a população camponesa, ainda João, generosamente, da voz aos quilombolas através de suas composições.

domingo, 6 de junho de 2010

A foto com o presidente Lula


Um dia desses, na universidade, quando estávamos dando uma formação para professores (as) camponeses (as) – sobre a mesma temática – fomos agraciados com a presença do Presidente Lula, que apareceu sem ter nos comunicado com antecedência. Na verdade, nem precisava, pois Presidente da República é presidente!

Por felicidade minha, ele apareceu bem na hora que iria dá minha singela contribuição no seminário. Aí já viu, foi àquele maior alvoroço, perdi até o fio da miada. Se tinha vontade de tirar uma foto com Lula, a pretensão aumentou ainda mais.

O que chamava nossa atenção e nos deixava felizes foi o presidente ter aparecido em um pequeno seminário sobre Educação do Campo. Acredito que os presentes, por um instante, pensaram na valorização que Lula estaria dando, dessa vez, a educação. Embora, o interesse maior de todos parecia que estava em tirar uma foto ao lado do homem e pouco se lembravam sobre formação, ou coisa parecida. Afinal de contas, não é todo dia que aparece o Presidente.

Sendo assim, fui logo fazendo a pouse, já que me senti no direito de ser o primeiro a ser fotografado, tendo em vista que seria o próximo a apresentar o conteúdo que teria sido planejado pelo o grupo. Sem contar ainda que a prática autoritária persegue-me sem muita insistência. Mais antes, deixamos o presidente falar sobre sua vinda à universidade, e sem que ele abrisse a boca – talvez fosse até melhor assim –, com muita intimidade, ao lado dele, que nem papagaio de pirata, fui logo perguntando: – Lula, depois você tira uma foto comigo?

Nem precisou que o presidente me respondesse, abracei-o e passei a câmera digital para um colega. Por desespero meu, o infeliz não soube utilizá-la! Sem muita cordialidade e meio suado, como sempre, Lula aproveitou da minha brecha para falar sobre sua vinda. Teve a coragem de falar que a transposição do rio São Francisco era importante para os ribeirinhos. Antes que ele concluísse, passei a digital para uma outra pessoa, e fui logo abraçando-o pelo lado esquerdo (de propósito!). Repentinamente, uma professora, aproveitando da situação, atravessou em minha frente agarrando Lula pelo lado direito para sair também na tal fotografia. Em momento algum tive objeção pela insistência, já que ele, mais do que ninguém, tem um histórico recheado de muita perseverança, pois foi candidato à presidência várias vezes.

Por infelicidade minha, ao consultar a digital, tinha saído na foto somente o rosto do presidente com “os dentes amarelo” e o sorriso à Monaliza da professora. Quando eu ia fazendo a terceira pouse, a colega mostrou a câmara, que dava um aviso: “Bateria descarregada”! A tecnologia tem dessas coisas: no momento que a gente mais precisa, nos deixa na mão.

Mas se a sorte não estava comigo no sonho, ela acordou-me para a realidade.

Justino Cosme, estudante

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O povo campesino clama por mais e melhores escolas


Por mais que pesquisas apontem que o índice de educação escolar vem aumentando, é de considerar que não podemos celebrar de maneira pomposa. É preciso ter os pés sobre o chão, porque o débito educacional que o país deve aos exorbitantes analfabetos é quase incalculável, haja vista que temos um número considerável de pessoas que nunca foi a escola, ou permaneceram pouco tempo nela, principalmente a população oriunda do campo. Sendo que freqüentar uma escola nunca foi “privilégio” da classe menos favorecida. Isso não quer dizer que esta nunca quis ir a uma, mas na escolha entre estudar e trabalhar, este sempre fala mais alto, uma vez que garante, a princípio, a sobrevivência humana.

No campo, a situação ainda é mais agravante, porque além da dificuldade que o trabalhador e trabalhadora têm para estudar, devido o cansaço da dura jornada de trabalho durante o dia. Ainda hoje, muitas comunidades não disponibilizam de uma escola que possam atendê-los, como se o Direito à Educação, conforme promulga a Leis de Diretrizes e Bases – LDB, fosse mérito apenas da população da cidade. Na falta da escola no e do campo, muitos desistem de estudar e outros, mesmo com muita dificuldade, buscam ter acesso a ela, pois a educação é uma expectativa de uma vida melhor, ou mais independente do povo da cidade.

Contudo, quando chegam à escola da cidade, os obstáculos são inúmeros: as condições do transportes que os conduz não são das melhores; cansaço físico latente; falta tempo extra para estudarem; dificuldade em organizar enquanto grupo, pois nem sempre os estudantes moram perto uns dos outros; também não têm oportunidade de fazer pesquisas na própria escola – quando há recursos didáticos –, porque o acesso a ela é somente no momento que estão na sala de aula. Para piorar a situação, ocultamente, são discriminados por uma boa parte dos professores e também pelos próprios colegas, já que são vistos como gente sem cultura, sem conhecimento; jocosamente, como “estudantes da roça”, quão fosse impossível ter uma vida digna nesta, enfim.

Diante da situação que assola a trabalhadora e o trabalhador, mormente, o campesino, estudar nos moldes como a escola está estruturada ainda não é nada fácil. Contudo, é impossível não reconhecer que a distancia entre a escola e o trabalhador tenha ficado menor, contudo precisa melhorar ainda mais. E os profissionais dela precisam reconhecer que fora dela há muitas pessoas que necessitam urgentemente sair do estágio onde se encontram – analfabetos. Não por opção, mas devido a estrutura sócio-política do país que sempre os empurrou para este fim.

De outro modo, a escola precisa ser mais atraente e menos opaca, porque um trabalhador, que após desenvolver uma árdua jornada de trabalho, não suporta fingir que está contente com má instituição de ensino onde estuda, pois as forças contrárias à permanência nela são maiores.

Justino Cosme, estudante

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ler devia ser proibido


A pensar a fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.Afinal das contas, ler faz mal às pessoas: acorda o homem para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário que vive. A leitura induz a loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madamme Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram, meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinonte.Quanto a pobre Emma Bovary, tornou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.

Ler realmente não faz bem. Acriança que ler pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzindo a crer que tudo pode ser de outra forma.Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável.Liberta o homem excessivamente.Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquece-lo com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo bem de Aristóteles: o conhecer. Mas pra que conhecer se,na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o deve, enfim é fazer o que dele espera e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem necessariamente ser longos. Ler pode gerar invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos.Nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais que um punhado de pó em movimento.Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas.

É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não. Não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus folhos. Podem leva-los a desenvolver esse gosto pala aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de civilização, mas tão pouco sem conhecer as guerras, destruição e violência. Professores, não contem histórias podem estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a reposição para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, podem gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos, em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pudessem articular bem as demandas, afincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista da sua liberdade.

O mundo já vai por bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédios, projetos, manuais, etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. É esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim.Á máquina do tempo. Para o homem que não lê, não há fronteiras, não há correntes, prisões tampouco. O que pode ser mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilegio concedido apenas a alguns. Jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio a alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um. Afinal de contas, a leitura é um poder e o poder é para poucos. Para obedecer, não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos. A leitura é obscura. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar e o mundo do outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

In: PRADO, J.e CONDINI. P. (Orgs.) A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus. 1999.Pp71-3

Prefiro Zé, na próxima eleição


Nesse ano acontecerá mais um período eleitoral, em que escolheremos, mais uma vez, nossos candidatos (as) a deputado (a), senador (a), governador (a) e presidente, ou seja, representantes que irão assumir os poderes do executivo e legislativo. Pelo que tem demonstrado, os políticos partidários estão se organizando, como acontece a cada pleito. Os extensos conchavos partidários rolam soltos, troca de partido, de sigla – um verdadeiro proselitismo e um “disse-me-disse” amargam pelo vento. Muitos dos que estão viciados na arte de(s) governar trocam seus velhos paletós de outrora. Até passar “massa corrida” na cara, com o intuito de esconder as asquerosidades estampadas no rosto, acontece. Afinal de contas, para não sair mal na foto vale todo esforço! Enquanto a maioria do povo, com o sorriso amarelo de lagarto, espera incólume a “banda passar”.

Embora a embalagem conta, na próxima, prefiro votar em Zé-ninguém. Esse, sim, tem compromisso com os pobres e alijados. Esteve sempre presente nas eleições, mesmo que tenha sido “apenas” para engrossar as urnas. Aliás, se não fosse ele, decerto não haveria eleição.

Diferentes de outros (os) candidatos(as) impertinentes, Zé-ninguém sempre esteve ao lado do povo. Muitas das vezes, esteve sozinho é verdade, sobretudo quando precisou de “desfrutar” dos Serviços Públicos, a exemplo de Saúde, Educação, Segurança, dentre outros. Coitado do Zé, sempre esteve lutando contra o jugo dessa sociedade excludente, e mais que Ninguém, Zé é quem leva o país com a carga dos vultosos impostos nas costas.

Por isso, minha gente, nesse ano, vote nele, pois mais do que qualquer outra pessoa, Zé-Ninguém conhece todas as mazelas que afligem o povo, pois ele também faz parte da escoria da sociedade. Além do mais, Zé não é nenhuma (desculpe a expressão machista) “Maria vai com as outras”, nem tão pouco um Zé-sem-graça como andam falando por aí. Sendo assim, na próxima, vamos acabar com a história do Patinho Feio, enquanto o Lobo Mal passeia de cordeiro a cada nova eleição.

Justino Cosme – estudante

O desequilibrista

No alvorecer do dia, no calor que à cidade “insiste” em fazer, sob uma plataforma de um posto de gasolina, sem equilibro, ele deixa umas moedas miúdas caírem do bolso da camisa ao chão. Abaixa para catar: cata uma, mais outra... que nem galinha catando milho. Ao tentar colocá-las no bolso, deixa caírem novamente. Aí começa a peleja de novo.

Assim que apanha os níqueis, meio trôpego, como se tivesse buscando apoio, tenta escorar-se em um grande saco que carrega com todos os seus pertences. Ao se levantar da “seleção” das moedas e ao apanhar o saco bruscamente, deixa algumas peças de roupas emergirem dele. Meio trêmulo, pega uma peça, outra, e com mau-vontade e impaciente devolve-as ao saco violentamente.

Depois de tudo arrumado e balbuciando algumas palavras consigo mesmo, mas como se estivesse falando com alguém, ele sai cambaleando e tentando se firmar entre uma coluna e outra da plataforma. Ao tentar atravessar a avenida é levado pelo vento de uma carreta que passa em alta velocidade. O individuo não morre, entretanto tudo cai esparramado ao chão: ele, moedas, roupas e um jornal “vencido” e meio amassado, que voa do saco e chega aos meus pés, com a manchete: “Aumenta o índice de alcoólatras e miseráveis na Bahia”.


Justino Cosme, estudante

Do livro, pelo menos a leitura


Sou um leitor tardio, quero dizer, o meu contato com os livros começou nos meus quinze anos, relativamente tarde, mas não tarde demais. Os livros sempre me chamaram atenção. Menos os livros didáticos, não consigo considerá-los como livros, para mim são mesmo cartilhonas. Não oferecem nenhum chamariz sobre as coisas do mundo que possa mexer com os nossos sentimentos. A única coisa que me lembro de uma dessas cartilhas é o texto “o menino barrigudo”. Mas especificamente do trecho em que um cavaleiro vai passando e pergunta: - menino, essa estrada vai para onde? Audaciosamente ele responde: - ela não vai a lugar nenhum, nós é que vamos nela.

Só hoje consigo saber por que isso permanece em minha memória. A coragem, a audácia de o mais fraco sempre dizer para o mais forte que ele também é fraco, ou que o aparentemente mais fraco também é forte e com isso enfraquecer o que se acha superior. Reporto ao contato mais recente que tive com uma das peças de Brecht, o mendigo ou o cachorro morto. Ali o mendigo tem a audácia de dizer para o imperador, quando interrogado por este sobre a opinião que tem sobre ele, no ato responde: -não existe imperador. Só o povo pensa que existe um, e só um único homem pensa que é imperador. Num trecho mais adiante, o imperador ao dizer que domina os homens e que por isso eles te respeitam, o mendigo responde: - a rédea também pensa que domina o cavalo, o bico da andorinha pensa que orienta o seu vôo e a ponta da palmeira pensa que arrasta a árvore em direção ao céu!

São também essas identificações que encontramos nos livros que nos fazem sempre querer ler mais e mais. Identificações encontradas nos atos e personalidades que gostaríamos de pelo menos imitar, mas que estão bem distante de nós, só estão presentes dentro de nós, em nossas mentes.

Mas além dessas identificações, alguns livros nos proporcionam vivências, sentimentos, fantasias, viagens inconcebíveis de outra forma. E esses experimentos que determinadas leituras nos proporcionam é que são importantes, pois são elas que vão moldando nosso ser, nossa forma de ver o mundo, nossa forma de agir no mundo e com o mundo.

Eu, particularmente, tem algumas obras que marcaram, e marcam, diga-se de passagem, a minha vida. Sem tê-las lido, certamente não estaria escrevendo este texto.

A primeira foi a guerra do fim do mundo, de Mário Vargas Llosa. Se a leitora ou leitor já teve oportunidade de lê-lo sabe que é uma das grandes obras literárias que fala da guerra de Canudos e da saga de Antonio Conselheiro. Por vários motivos este livro me marcou. Primeiro pelo assunto que aborda. Segundo, por ter sido o primeiro livro que li por completo, e esta foi uma grande façanha, pois ele é composto de 553 páginas. Para um incipiente leitor é uma enormidade. Tanto é que demorei um ano para terminá-lo. Valeu muito a empreitada. Depois dele, livros de 200 páginas não era mais bicho de sete cabeças, alem disso o interesse por conhecimento e pelas viagens tornavam as leituras cada vez mais freqüentes.

Livros são obras de arte. Para mim um livro pode causar transformações, para outro pode não dizer nada, e vice-versa. Cada ponto de vista, é a vista de um ponto.

Assim continuou minha caminhada no mundo da leitura. Nela me apareceu Contos, de Machado de Assis. Ali encontrei a missa do galo e a cartomante. Depois de tê-los lido fiquei num estado de tal impressão que tive que sentar por um tempo encostado na cama e ficar pensando naqueles contos. Como diz o senso comum, pensei que fosse enlouquecer. O pior é que enlouqueci mesmo, hoje estou mordendo cachorro louco, só para lê mais um livro.

Nessa caminhada débil leio muita coisa boa, medianas e ruins. É necessário ler de tudo um pouco, pois precisamos ser críticos, mas precisamos ser responsável ao criticar e para isso é necessário conhecer. Então me aparece mais um livro marcante: Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire. Leio e acabo descobrindo que as coisas no mundo não eram como diziam e como eu pensava que era. Percebo que ele tem uma rachadura enorme. De um lado está a minoria que possui bens e poder, do outro estamos nós, com nossa mão-de-obra para vender para o outro lado.

Aí encontro alguns livros de Karl Marx, leio e descubro que essa separação chama-se luta de classes e que eu pertenço a classe que vem perdendo desde algum tempo, está sempre sendo explorada, que é a classe trabalhadora. Só que ao contrário de um jogo, eu não devo tentar ir para o outro time, mais sim fortalecer o que eu pertenço.

Assim continua minhas leituras: livros bons, medianos e ruins. Encontro As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano. Descubro que tudo que havia escutado e lido até ali sobre a descoberta da América era uma farsa. Nunca existiu descoberta, mas sim invasão, espoliação, massacre e colonização, esta é a realidade.

É clarividente que livro bom não precisa tratar especificamente de um assunto para ser tratado como tal. Tenho a impressão que alguns escritores podem escrever sobre qualquer coisa, que farão uma grande obra. Mas reconheço que é só impressão. Algumas obras exigem tanto estudo, tanta pesquisa, que torna quase impossível para a maioria dos seres humanos. Assim, por exemplo, são os trabalhos de Marx.

Outros não exigem tão dispendioso trabalho, mas além de requererem certa bagagem de conhecimento, precisa do arranjo criativo do autor. Assim é Machado de Assis e Oscar Wilde. Deste li O retrato de Dorian Gray. Sinceramente, por mais de uma semana não consegui lê outra coisa, de tão impressionado que fiquei ao terminar a leitura. Pensava tanto no personagem que transferiu seu envelhecimento para seu retrato (ele não envelhecia, mas sim seu retrato escondido no porão), quanto na capacidade do autor de ter feito uma obra tão espetacular como aquela, criado história tão impressionante.

Tardiamente chegou a minha mão A metamorfose, de Franz Kafka. Digo tardiamente porque chegando ao trigésimo aniversário é um tanto perigoso. Pode ser que a maldição de Gregor (personagem que acorda transformado num horrível inseto), comece a se espalhar também para os leitores. Já pensou, eu com dois filhos para criar e sem ter como? Porque me transformei num inseto?

Não me transformei em inseto, mas...infelizmente, não saí ileso. Depois de tanto morder cachorro louco e lê livros, comei a delirar. Aí já sabe...comecei a escrever. É loucura, meu amigo e minha amiga! Muita loucura!

Luiz Adão, aprendiz. Bom Jesus da Lapa-BA
14/10/2009, 00h49min

O pão nosso de cada dia!


Depois daquele estrépito na rua, na aurora do dia, não mais conseguir dormir. Se bem que tentei, e quando ia pegando no sono ouvir de novo um grito, um tanto mais grave, quase indecifrável, de uma segunda pessoa. Contudo entendi-o somente pela metade: “...ôlhaaaopaaaão”. Sonolento e sem coragem para decifrar o que se passava ali fora, fiquei amargando na cama até o café da manhã...aos meus ouvidos o barulho soava como se alguém estivesse lapidando uma pedra.

Os dias foram passando, e os gritos iam repetindo sempre nos mesmos horários, agora de maneira mais compreensível, já que os meus ouvidos foram se afinando ou acostumando com o que era quase impossível outrora. Desse modo, fui entendendo que aqueles ruídos que ocorriam todos os dias pela manhã era simplesmente vozes de dois rapazes, um mais moço, que vendiam pães pelas ruas da cidade: um ia à frente e o segundo mais atrás, no raio de cem metros. No entanto, ambos usavam o mesmo bordão, com a diferença do trocadilho, para chamar atenção da freguesia que, possivelmente, estaria dormindo. Um deles gritava: “Moradooooooooor, ooolha ô paaaão”! O outro – como estivesse respondendo – cadenciado, falava: “Ooolha ô paaaão, moradooooooooor!

Sem dúvida, essa prática de vender pão pelas ruas da cidade por uns dias mexeu comigo. Não somente por ter acordado-me algumas vezes, mas porque também fiz isso quando morava na ex-pacata cidade chamada Santa Maria da Vitória.

Ainda bem que isso, e tantas outras coisas boas, ainda é possível se vê na sossegada cidade Feira da Mata-BA.

Justino Cosme, estudante

Coisa do mudo-moderno


-Bom dia! Disse ao senhor que estava cabisbaixo tomando um delicioso café com biscoito no refeitório do hotel, onde eu estava também hospedado. Contudo, ele nada me respondeu, terminou tomar o café e saiu. No outro dia, fiz a mesma coisa, disse: - Bom dia, senhor! Mas nada dele me responder. No dia seguinte, a cena se repetiu.

Quando pensa que não, encontro o referido senhor pedindo esmolas aos transeuntes que passavam na rua. Com uma das mãos e com a boca em murmúrios tentava explicar mímicamente o que queria; com a outra segurava uma “credencial” para reforçar o que buscava dizer, em resumo estava escrito: “Ajude o surdo-mudo. Ele também é filho de Deus”. Depois disso, entendi o porquê dele não ter me respondido pelas manhãs, pois encontrava-o absorto descostas e cabisbaixo sorvendo uma xícara de café. Desse modo, falava com ele, mas o mesmo não me ouvia, e nem conseguia fazer a leitura labial do que eu dizia.

Contudo, fiquei sem entender uma coisa: como é que um senhor, surdo-mudo, que pede esmolas pelas ruas, tem condições financeiras de hospedar num dos hóteis mais “nobres” da cidade?

É... minha gente, o negócio de pedir esmola parece que está mesmo prosperando! Logo, logo largo essa vida de carteiro itinerante.

Justino Cosme, estudante,