domingo, 25 de julho de 2010

Pode passar João Poeirão

Mesmo com uma poeira danada, avistei João Poeirão sentado, pitando um cigarro de palha, numa das esquinas da Rua Teixeira de Freitas, como se estivesse feliz e tranqüilo com a vida que leva.

É um homem simples, meio adoentado, taciturno; enrijecido pelas agruras da vida, porém, boa gente. Se não fossem os maus-tratos que lhe fazem, certamente, seria uma pessoa mais amável, extrovertida e, possivelmente, conseguiria unir forças à sua causa política. Embora seja importante, timidamente, ele luta para que os governantes vejam também a situação onde mora, porque clama por condições de calçamento para a rua, que irá beneficiar todos os moradores - caso saia.

O desgosto maior de Poeirão, que impulsiona a sua árdua peleja, é que o único pedaço do logradouro sem ser calçado é a frente das casas que seguem à dele, numa distância de uns 300 metros. Haja vista que o pavimento começa no início da Rua Teixeira de Freitas, perto do rio, e vai aproximadamente 1 km de extensão, mas “morre” antes do término.

Além disso, a insatisfação dele, igualmente, existe porque a comunidade da qual está inserido, a toda eleição municipal, serve de trampolim para políticos, pois o “pedaço da rua” já faz parte de promessa eleitoreira para um número de candidatos demagogos. Pois, uma quantidade expressiva promete que irá concluir o calçamento, de maneira que a avenida seja trafegável com mais facilidade, e que os moradores de lá não mais irão recorrer ao hospital para curar das doenças: alergias respiratórias, rinite, asma, bronquite asmática, etc., ocasionadas pela excessiva poeira.

Numa situação de indagação, ele lembra que, próximo da sua casa, existem duas instituições governamentais, CERB e o CRAS, que poderiam facilitar a construção e a continuidade da pavimentação, já que acredita que “uma coisa puxa a outra”... Mas, pelo que tenho visto, João, parece que “duas coisas afastam uma outra”.

Quem conseguiu avistar João Poeirão na esquina, percebe que a insistência dele não é de agora, pois “se perdeu na poeira da vida”, como diz Chico Buarque. E, devido à degradante situação da saúde, infelizmente Poeirão se contorce sozinho em meio à solidão “das vizinhanças”, uma vez que todo município, desde muito tempo, necessita também de pavimentação em diversas vias públicas e, mais ainda, nas estradas vicinais. Contudo, o povo anda parcialmente cego (possivelmente, devido a poeira) e encontra-se incrustado diante do grave problema.

Justino Cosme, estudante,

Nenhum comentário:

Postar um comentário