quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sai da fila moço, quero passar!

Nunca gostei de pegar nenhum tipo de fila, se não for exagero, ninguém gosta. Às das instituições públicas (considero uma grande falta de respeito), principalmente, as que demoram uma eternidade, ao andar em passos de lesmas, quando estão ainda com preguiça. Quando aparecem os fura-filas, ou engraçadinhos (as) – para não dizer outra coisa – aí é que ela se espicha. Sem contar, às vezes, que os lentos atendentes contribuem para isso.

Não querendo ser nenhum herege, parece que existe fila até mesmo para falar com Deus, sendo que são muitos os(as) miseráveis que lhe pedem assistência, e não são atendidos(as) facilmente, decerto as filas são enormes também lá no céu. Se não for exagero, todas as pessoas da classe popular já pegaram fila; na verdade, as crianças dessas famílias já nascem e crescem pegando: fila no hospital público, no fórum, na escola, e segue até mesmo na hora da morte.

Contrariamente, as ricas dificilmente pegam. Nas repartições públicas, então, nem se fala! Tendo em vista existirem exceções inescrupulosas para isso, infelizmente, sendo que há um número considerado de congêneres. Existe até uma frase famosa e perdida por aí, que diz: “no Brasil, as leis são para os inimigos; para os amigos aplica-se o jeitinho brasileiro”.

Por sua vez, nas poucas filas das instituições particulares, existem as “regalias” que são monitoradas a partir da conta bancária que cada indivíduo possui. Isso fica perceptível no atendimento prioritário que têm esses nos próprios bancos, dentre outros.

O engraçado é que na fila, algumas pessoas se posicionam sobre vários fatos do cotidiano, pouco ou quase nada sobre ela mesma. Parecerem ficar hipnotizadas. Numa situação, principalmente de pressa me pergunto quem a tenha inventado, somente. Embora tenho a impressão de que ela seja mesmo o ponteiro que marca a sociedade burocrática, e o atrito que impede a rebeldia. Apesar disso tudo, algumas coisas divertidas são comentadas na fila. Certo dia mesmo, ao tentar aproximar de uma vetusta senhora, na conversa – já que fisicamente estávamos muitos próximos – para informar que havia fila especial destinada a ela. Fui perguntando de onde era, no que me disse: - Sou da comunidade do Tatu.

Quando ia abrir a boca para fazer uma outra pergunta, interrogou-me: - E você é de onde? Antes que lhe respondesse, fitou nos meus olhos, meio desconfiada e de supetão, fez uma outra pergunta: - Você é homem ou é mulher?

Mesmo sem saber como respondia, comedido, com voz trêmula e baixa, disse: - Sou homem, não pareço?!! E sem medir palavra, a senhora falou: - Não, nunca vi homem na minha frente de cabelo grande e ainda com faixa na cabeça. Isso é coisa de mulher. Ora!

Foi somente dessa forma que a fila saiu do lugar...

Afinal, o que é cultura?

Ainda parece que não é demais falar sobre cultura, uma vez que há um entendimento distorcido ou equivocado do seu conceito macro, pois existem muitas pessoas que pensam que ela restringe-se a um número pequeno de indivíduos, ou seja, geralmente, quando se faz alusão às pessoas que tiveram acesso ao conhecimento científico, a exemplo das que são egressas de universidade, ou referindo às que desenvolvem alguma expressão artística ou tem afinidade. Quando muitas das vezes, apregoadas às que lêem muito ou “domina” mais de uma língua.

Como se isso já não bastasse, existe uma quantidade de pessoas, “os eruditos” – mesmo sabendo ou conhecendo o significado – não demonstram nenhum interesse em desmitificar tal equívoco, aproveitam da falta de compreensão de muitos (as) para continuarem perpetuando a imagem de que são os únicos possuidores de cultura.

Dificilmente, as pessoas associam a cultura como uma atividade intrínseca aos seres humanos, quê são únicos possuidores da razão, e a todo instante transformam o meio de acordo às suas necessidades, ou conseguem adaptar-se sem muitos problemas. Diferentemente dos animais irracionais, que não sobrevivem fora do seu habitat, nem conseguem modificá-lo.

De modo singelo, cultura é conjunto de características humanas, o modo de falar, formas de organização; os costumes, tradições, técnicas, comidas, dentre outros. O que convém dizer que todos nós temos cultura, aliás, culturas – no plural – já que temos várias. Até mesmo quem não consegue fazer a leitura desse pequeno texto a possui.

Quando alguém diz que uma cultura é mais importante que a outra, percebe-se que ela está usando de uma comparação, de um modelo no qual um tende a sobressair. Contudo, sem saber – muitas das vezes – está praticando o etnocentrismo (etno, ‘cultura’; centrismo, ‘ter como centro’), que é uma visão preconceituosa, já que considera uma cultura superior a outra, isto é, não consegue perceber a diferença e a relevância que cada uma tem.

A exemplo de uma prática etnocêntrica, não poderia deixar de mencionar aqui a visão equivocada presente na sociedade acerca da palavra “civilizado”, sendo que, quando usada pela maioria, refere somente às pessoas que têm familiaridades com as novas tecnologias, ao conhecimento elaborado; que escrevem conforme a Norma Culta, etc. No entanto, muitos(as) não sabem que este mal entendimento foi provocado pelos portugueses, quando chegaram às terras brasileiras, pois acreditavam que havia uma escala evolutiva pela qual todos os povos deveriam passar linearmente para chegar o máximo do desenvolvimento humano. Nesse caso, os habitantes daqui, os índios, por ter uma cultura diferente, foram visto como pessoas atrasadas, bárbaras, e que ainda iam evoluir a partir do seu modelo: o europeu. Denominando assim a cultura européia superior às demais ou a mais importante.

Além desse exemplo, poderia citar vários outros, como a própria visão atropelada que se tem dos trabalhadores (as) rurais, dos (as) negros, das mulheres, dos homossexuais, dentre tantos.

Ressalta falar ainda que, além de todas as pessoas serem providos de culturas, ela é dinâmica, ou seja, está em constante mudança e, com o advento das revoluções tecnológicas, as transformações passam a ser mais efêmeras. Fazendo com que agregamos novos valores aos já existentes, mudando, muitas das vezes, de maneira espontânea a nossa cultura.

Justino Cosme, estudante